domingo, 10 de agosto de 2008

Perdição


De agonias de ventos fortes, pulsantes.
Nasce aqui a angústia constante de um presente dilacerante
Linha por linha,voz por voz, fala por fala digo para ti.
Repito para mim.
Desdém inútil, não há como fugir da pressão de si.

As canções reconfortam, explodem, exorcizam fardos que agarram as pernas.
Arrastam para o fundo, levam consigo todo a beleza de  detalhes íntimos.
Afogam os lampejos, destroem os desejos.
Por onde encontrar as frestas que conduzem às luzes?

Doem os dias nublados, enfraquecem as ações repetitivas, enlouquecem as energias negativas.
Todo o dia.
Todo o caminho.
De casa para a rua.
Da rua para a casa.
Volta e meia. Meia e volta.

Abatimento, enclausuramento, espaços milimétricos.
Lesões internas, enfraquecimento da mente, replay dos mesmos takes.
Opções milhares, universos trilhares, sufocamento infinito.

Perdeu o momento mas ganhou o outro segundo.
E foi desse segundo do momento perdido que se achou enfim.
Levantes de tristeza, conjunto de alegrias.
Peca-se para encontrar a virtude, e do caminho mais longo e sacrificante encontra-se a sabedoria.
 

domingo, 20 de julho de 2008

Balé de dois.

Avança com passos de bailarina, mistura o norte com o oeste.

E de lestes viventes pulsa o brilho de um solo deslizante.

Não cai nas tentativas de um número para um teatro intimista.

Uma dança ensaiada, um calor circundante, um afeto bailante.

Quantos voltas e desvoltas de um sorriso pra lá de vibrante.

Perdeu o tempo que sofreu, ganhou o futuro que reinará.

Importa a noção limitada de um relógio que marca a hora errada?

Pois não, não há tempo contado, não há hora determinada.

É do infinito, do espaço, do vácuo que então existe tudo.

Existirá o tudo, o mundo e o sempre.

De sempres, eternos, constantes e levantes do silêncio então,

Parará o tempo, congelará o momento e assim retornará.

Retornará aos passos de bailarina, cheios de sabores de sul,

E esperanças de inúmeras direções.

Está para chegar o dia do espetáculo final, a dança triunfal.

Lacunas a serem preenchidas.

Novos passos a serem criados.

Balé de dois.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Pensamentos humanos


Lavou a alma com odores de saudades.
Limpa teu céu de borboleta.
Um dia...
Um dia achou que as palavras poderiam ser pronunciadas de maneiras diferentes.
Acreditou que bastaria olhar para que milhares de novos verbetes viessem à tona.
E por sentir que seria possível, cumpriu seu destino de compreender.
Por mais incompreensível que parecesse, à princípio, seus pensamentos de velcro.
Grudam e encaixam-se uns aos outros.
Fragmentam-se, conectam-se pelas beiras.
Ilusões tecidas de retalhos de imaginações alheias.
Entrelaçou reflexões perdidas no espaço.
Uma imensidão de buracos negros magnetizados, atraídos por um metal inquieto.
Mental vividez.
De uma energia sutil, quebrante.
Clareza do ser.
Leveza da alma.
Leve-se pela inquietude. 
Conserte-se pelo entusiasmo que arrebata razões.
O raciocínio mais encantador se guia por traços contínuos de verdades contestadas.
Inverdades universais.
Avesso do estabelecido.
De ponta cabeça o trivial embaralha-se e vira irreal.
A irrealidade que ensina, que conjuga os melhores verbos fictícios.
Recria as tais palavras conhecidas.
Enrolam-se nos panos do lúdico.
Criam nações inteiras.
E assim,
Ao transbordar, criar, pulsar e transcender,
Arrematam mundos individuais.
Pontuam doutrinas solitárias, belas por suas singularidades.
Espaços solitários, ávidos.
Multicoloridos e inigualáveis.
Pensamentos humanos.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Epopéia Pueril


Cores quentes, mente viva, suaves brisas.
Se experimenta o vinho do eldorado, de dourados incandescentes é porque viveu.
Viveu de lamúrias enérgicas que se deslocam no tempo.
Assim...
Assim como passadas precisas que tanto percorrem por ruas brilhantes.
Cintilantes, coloridas, densas e dilacerantes.

Se curva por verdes de terras tão pessoais, tão literais.
Podem aquelas luzes trazerem tantas reviravoltas mirabolantes??
De nuvens e de noites são feitas todas as mesmas histórias efusivas.
Que rabiscam pentes de linhas laçantes.
Correm para o parque das ruínas de labirintos costurados por fios de plantas.
Fogem para castelos de lembranças milenares, de reis de dinastias distantes.

Não é mais por aquele caminho, por aquela grandiosidade que almeja transitar.
Nem por dentro de visões de esculturas de cerâmica, ouro branco, madeixa rústica.
Leveza do ser, apenas por ser o que não se é, mas que pode vir a ser.

E se cansa, se lança, se busca, se sofre, se transborda, se roda, se livra, se ri.
Se mata, se renasce, se acende, reacende, se troca, se torna, se canta, se voa, se mira, se choca, se vive, se vive, se vive.

Com todas as questões, com toda a ternura, se estica com panos de rasgos profundos.
Que ao se completarem, formam belos laços.
Da inexatidão, da imperfeição e da introversão se encontram todos os "ãos".
Que formam apenas uma.
Apenas uma.
Uma união.


segunda-feira, 19 de maio de 2008

Por entre silêncios



Por entre silêncios, no vai e vem da rotina
Por entre palavras, na mistura do dia-a-dia
Esfumaçada pela neblina a lua se posicionou de ponto a ponto
Sigo e me guio por entre silêncios
Segunda-feira de ônibus recheados de vidas, de histórias perdidas em bares
Gargalhadas ecoam pelas ruas
Damas que profetizam e confabulam,
Gente que corre e se comunica
Por entre silêncios de um espectador atento.
Luzes desfocadas, noite viva
Em qualquer canto, cada esquina, a lua ilumina
Veja dali, suma por aqui, absorva lá dentro
No canto do que não é dito,
Não adianta se prender a tantos olhos atenciosos
Por entre silêncios, na madrugada a canção é mais bela
Por entre silêncios, com quantos estranhos se faz uma história?
Por entre silêncios, não se perca no vazio da multidão
Por entre silêncios, ouça o que está por dentro
Por entre silêncios, busque a voz da solidão
Por entre silêncios.